Exposição em Santos apresenta trabalhos antirracismo desenvolvidos em escolas municipais
‘Educação para Relações Étnico-Raciais’ é o tema da exposição aberta no saguão do Paço Municipal (Centro Histórico), que faz parte da programação especial do Mês da Consciência Negra. A mostra, que pode ser visitada até a próxima terça-feira (19), é fruto de dois anos de trabalho do projeto de extensão ‘Quilombagem e escola: da memória à história pública’, parceria entre a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) - Campus Baixada Santista e a Secretaria de Educação (Seduc), em colaboração com o movimento social negro. As telas expostas são o resultado das atividades realizadas com os estudantes.
A abertura, na segunda-feira (11), contou com a presença de representantes das escolas municipais participantes e alunos do pré A da UME Alcides Lobo Viana, além dos envolvidos na iniciativa e autoridades. Na ocasião, as crianças apresentaram uma música e puderam fazer uma visita pelas dependências do Palácio José Bonifácio.
ANTIRRACISMO
O projeto de extensão ‘Quilombagem e escola: da memória à história pública’ potencializou as ações previstas na legislação nacional que tratam do ensino da história e cultura indígena e afro-brasileira no ensino fundamental e médio, já realizadas na rede municipal há mais de dez anos, promovendo uma educação antirracista que enfatiza o protagonismo negro.
A ação foi enriquecida pelas contribuições de seis personalidades: Bartolomeu de Souza, Esmeraldo Tarquínio Neto, Luiz Gama, Augusta de França Oliveira, Júlio Evangelista e Helena da Costa. A partir da história e relatos dos personagens, o tema é trabalhado com os alunos, por meio de atividades diversas como contação de história e arte.
Doze escolas municipais fazem parte da iniciativa: Prefeito Esmeraldo Tarquínio, Alcides Lobo Viana, Ayrton Senna da Silva, Irmão José Genésio, Vinte e Oito de Fevereiro, Maria Patrícia Fogaça, Maria Carmelita Proost Villaça, José Carlos de Azevedo Júnior, Gota de Leite, Olavo Bilac, Padre Francisco Leite e Mário de Almeida Alcântara.
A professora do curso Serviço Social da Unifesp e coordenadora do projeto, Francisca Rodrigues Pini explicou sobre o processo do desenvolvimento da extensão e ressaltou a importância dentro da educação. “Para recompor a história africana em Santos, realizamos um mapeamento das lideranças negras da Cidade e esse trabalho nos levou a descobrir figuras emblemáticas como seu Bartolomeu e Augusta, presentes nesta mostra. A partir das narrativas de seu Bartolomeu sobre outras personalidades santistas, organizamos uma roda de memória, que permitiu recompor a história negra sob a ótica desses líderes. Posteriormente, sistematizamos o material para ser introduzido no projeto pedagógico das escolas, garantindo que essa história seja compartilhada com as novas gerações”.
A presidente do fórum municipal de acompanhamento da aplicação da lei federal sobre o ensino da história e cultura indígena e afro-brasileira e vice-presidente do Conselho Municipal de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra e de Promoção da Igualdade Racial, Joana Costal, destacou a relevância da temática nas escolas. “A educação antirracista requer uma abordagem coletiva e colaborativa. Nas escolas municipais e na Secretaria de Educação são realizadas diversas ações e necessitamos de parcerias como esta estabelecida com a Unifesp para ampliar ainda mais este trabalho”, enfatizou ela, que também é supervisora de ensino da rede municipal. “Este projeto é importante no combate ao racismo nas escolas municipais, fomentando reflexões significativas entre estudantes e professores, com o apoio de acadêmicos da universidade”.
O aluno do 6º período do curso de Serviço Social da Unifesp, Guilherme Nascimento, que realiza o projeto nas UMEs Olavo Bilac e José Carlos Azevedo Júnior, destacou a importância da ação na reconstrução da memória social e étnico-racial. “A iniciativa é fundamental para refletirmos sobre o impacto de nossas bases sociais em diversas dinâmicas, evidenciando a necessidade de atuação efetiva nas escolas para resgatar nossa história e promover uma educação inclusiva e crítica”, afirmou.
A professora do pré A da UME Alcides Lobo Viana, Miriam Barazal, compartilhou suas impressões sobre o processo de adaptação e desenvolvimento dos alunos em sala de aula. “Estamos explorando livros temáticos e as crianças estão envolvidas com o projeto. Realizamos um teatro pela manhã e a professora da tarde também realizou outras atividades. Os alunos se encantaram e se reconheceram nas personalidades estudadas”.
PERSONALIDADES
A abertura da exposição teve a presença de duas personalidades que participam do projeto. Após conversar com as crianças, o escritor e poeta Bartolomeu destacou a importância do projeto de extensão para a literatura e história da sociedade. “É fundamental incorporar a conscientização e conhecimento na educação, pois quando uma criança cresce com autoestima valorizada, ela não apenas se protege de se adoecer com preocupações externas, mas também desenvolve resiliência para enfrentar preconceitos com segurança”.
A guia de turismo Augusta França expressou satisfação por participar da iniciativa. “É um privilégio e uma alegria trabalhar neste projeto, especialmente por ter a oportunidade de visitar escolas e interagir com as crianças. Essa experiência tem sido extremamente gratificante; estou à disposição para continuar contribuindo”.
EXPOSIÇÃO
A exposição ocorrerá em mais dois locais: Unifesp (Rua Silva Jardim, 136, com telas diferentes das do Paço), nos dias 14, 16, 18 e 19/11, e na Secretaria de Educação (Praça dos Andradas, 27), 21 e 22/11 e de 25 a 29/11.
A programação completa com as atividades do Mês da Consciência Negra pode ser acessada aqui. O cronograma foi organizado pelo Conselho Municipal de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra e de Promoção da Igualdade Racial, em parceria com a coordenadoria de promoção da igualdade racial e étnica, da Secretaria da Mulher, Cidadania, Diversidade e Direitos Humanos.