Santos ultrapassa 16,4 mil abordagens sociais no ano com ampla assistência para pessoas em situação de rua
Com mais de 16.400 abordagens sociais realizadas no período de janeiro a outubro deste ano, Santos segue com intenso trabalho diário de atendimento às pessoas em situação de rua. As medidas adotadas pela Prefeitura vão além da solução temporária de tirá-las das vias públicas, focando desde o resgate de laços familiares até o retorno ao mercado de trabalho. Em breve, em mais uma iniciativa inovadora, a Cidade terá o primeiro abrigo familiar da Região voltado para essa população. Atualmente, os equipamentos são exclusivamente masculinos ou femininos.
O crescimento da população em situação de rua é um problema global, especialmente em grandes munícipios, como Santos, por ser cidade-polo na Baixada Santista, absorvendo as demandas regionais. Para enfrentar a questão, o Munícipio oferta ampla rede de serviços.
Foto: Carlos Nogueira/PMS
OPERAÇÕES DIÁRIAS
A Prefeitura de Santos conta com uma equipe especializada em abordagem social, da Secretaria de Desenvolvimento Social (Seds), que trabalha todos os dias, inclusive nos feriados, das 7h à 0h, em carros adesivados – além de plantonistas. Com um olhar humanizado e escuta qualificada, eles buscam encorajar e fazer com que cada um destes moradores enxergue e vivencie uma nova perspectiva.
Os integrantes do serviço monitoram pontos da Cidade a partir de um mapeamento e identificam locais de fixação de vivência para apresentar os serviços socioassistenciais ofertados pela Prefeitura. São, em média, 30 operações diárias, sob responsabilidade da Coordenação de Atenção Social à População em Situação de Rua (Copros-Pop), vinculada à Seds.
“Santos conta com assistentes sociais que trabalham diariamente nesta busca ativa nas ruas e logradouros públicos da Cidade. Tudo é realizado na perspectiva de proteção e garantia de direitos para que essas pessoas consigam ser encorajadas a conferir a efetividade dos serviços públicos existentes”, explica o secretário de Desenvolvimento Social, Humberto Martinez.
INVESTIMENTO
No ano passado, com investimento de R$ 2,5 milhões, o Município aumentou a frota da Secretaria de Desenvolvimento Social (Seds), de 11 para 23 veículos identificados com logo e QRCode para acionamento da abordagem social e informações sobre os programas e ações voltadas ao tema. E, por meio de concurso público, a capacidade de atendimento Seds dobrou com a contratação de 80 novos profissionais já incorporados.
Foto: Isabela Carrari/Arquivo/PMS
DE ACORDO COM A LEGISLAÇÃO
É importante ressaltar que o Município age com base na legislação vigente, também de acordo com a Política Nacional para População em Situação de Rua (PNPSR) e a Política Nacional de Assistência Social (PNAS), diretrizes que enfatizam a importância do respeito aos direitos humanos, com o objetivo da garantia do acesso a serviços e programas municipais às pessoas em situação de vulnerabilidade, sem utilizar a coerção, julgamento ou violência durante a abordagem, apenas criando um vínculo com o ouvinte.
Foto: Carlos Nogueira/PMS
ENCAMINHAMENTO AO CENTRO POP
Ao aceitar o auxílio, as pessoas em situação de vulnerabilidade são encaminhadas para o Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop), localizado na Rua Amador Bueno, 446, Vila Nova. O equipamento funciona como um sistema de porta de entrada, para que o atendimento seja realizado conforme as necessidades apresentadas, com direito a guarda de pertences pessoais, canil, lavanderia, higienização, alimentação, assistência psicossocial e encaminhamento para acolhimento em abrigos.
Foto: Carlos Nogueira/PMS
A coordenadora da Copros-Pop, Larissa Figueiredo, destaca que há casos específicos durante o atendimento em que ocorre uma ampliação da rede de assistência à pessoa em situação de rua. “Para casos de maior complexidade e situações que exijam a articulação com as demais políticas públicas, as equipes dos serviços especializados contam com o acesso a outras secretarias, e realizam encaminhamos de acordo com a demanda da pessoa atendida, como atendimentos no Caps para o cuidado da saúde mental e inserção no EJA para o retorno aos estudos”.
Foto: Marcelo Martins/Arquivo/PMS
MAIS DE 320 RETORNARAM À CIDADE DE ORIGEM
Durante o atendimento no Centro Pop, também são ofertados serviços como a emissão de documentos, formulação de currículos e o Programa Recâmbio Qualificado que, até outubro deste ano, fez com que 324 pessoas retornassem às suas famílias a partir do contato com os serviços de assistência social da cidade de origem. Vale ressaltar que não se trata apenas de conceder a passagem, mas a retomada de vínculos familiares e um retorno em segurança.
MAIS DE 300 VAGAS DE ABRIGOS
Para os demais casos, Santos conta com dois serviços na modalidade Abrigo Institucional: a Seabrigo-AIF (50 vagas), localizado na Rua Manoel Tourinho, 352 (Macuco), e a Casa das Anas, na Rua Paraná, 219 (Vila Mathias), uma instituição conveniada, específica para mulheres em situação - ou iminência - de rua, com ou sem filhos (24 vagas).
O Município também oferece serviços de Casas de Passagem, sendo elas a Seacolhe-AIF (50 vagas), localizada na Rua Bittencourt, 309/311, e os conveniados Albergue Noturno (50 vagas), na Rua Braz Cubas, 289 (Centro Histórico), e a Casa Êxodo (52 vagas), localizada na Rua Conselheiro Saraiva, 13/15 (Vila Nova).
Foto: Marcelo Martins/Arquivo/PMS
Além disso, a população em situação de vulnerabilidade pode contar com o pontual Abrigo Emergencial, no formato Casa de Inverno (50 vagas), que atende através de pernoites na Rua General Câmara, 245/249 (Centro Histórico).
Foto: Carlos Nogueira/Arquivo/PMS
NOVO ABRIGO FAMILIAR
E foi ao longo da realização das operações sociais em vias públicas que agentes de abordagem notaram a quantidade de famílias em situação de rua e a alta demanda para um abrigo que pudesse comportá-las. Pensando em uma solução para mantê-las unidas, Santos se prepara para construir o primeiro equipamento destinado a abrigar familiares.
Foto: Francisco Arrais/PMS
O novo espaço, de aproximadamente 500m², composto por térreo e mais um pavimento, vai funcionar em imóvel localizado na Rua General Câmara, 245/249 (Centro Histórico). Inédito na Baixada Santista, o espaço terá capacidade para abrigar 30 pessoas e já tem projeto concluído. Atualmente, o procedimento licitatório se encontra em fase de elaboração de minuta e passará ainda por aprovação técnica e jurídica. A obra terá um prazo de execução estimado em 10 meses após a contratação da empresa vencedora.
O térreo contará com dormitórios com banheiro privativo e áreas que comportam quatro pessoas, sendo duas dessas unidades adaptadas a PCD. O espaço também oferece cozinha com refeitório e uma lavanderia, além de playground e espaço de convivência. Já o piso superior contempla mais cinco dormitórios, também com banheiros privativos, com capacidade de acomodar adequadamente 4 pessoas, além de cômodos como salas de múltiplo uso, atendimento às famílias e uma área administrativa.
FÊNIX GARANTE QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL
Além dos abrigos, faz parte dos serviços especializados o Programa Fênix, vinculado à Coordenadoria de Desenvolvimento Social (Codeso) da Seds, que oferece possibilidade de qualificação profissional à população. As práticas são desenvolvidas durante 18 meses, nos próprios equipamentos da Prefeitura, e oferecem salário mínimo, cesta básica e vale transporte. Neste ano, seguindo o cronograma de atividades, 100 pessoas foram inscritas em cursos profissionalizantes e de qualificação, assim como retornaram aos estudos.
Foto: Francisco Arrais/Arquivo/PMS
Um dos participantes é Edilson Martins ou ‘Fênix’, 60, como é chamado orgulhosamente pelos colegas de abrigo e trabalho. Longe dos julgamentos e riscos que enfrentou na rua, hoje é acolhido pelo Seabrigo-AIF e trabalha na Prefeitura Regional da Zona da Orla e Intermediária (ZOI), unidade da Secretaria das Prefeituras Regionais (Sepref), como pintor em equipamentos municipais. Mas, além da dedicação, a sua alegria e o carisma também tomam conta do seu serviço.
Foto: Marcelo Martins/PMS
“Por uma oportunidade de trabalho que não aconteceu, fui parar nas ruas. Naquela época, eu lembro que, mesmo com a parceria com algumas pessoas na mesma situação que eu, me sentia ferido com tanto julgamento. Sou um trabalhador desde os 14 anos e criei dois filhos, que sonho em manter contato. Convivi com professores e advogados que, por conta de conflitos familiares, também pararam nas ruas e sofriam o mesmo preconceito. Eu só pensava: ‘poxa, não estamos fazendo mal a ninguém’, lembrou Edilson.
Foto: Marcelo Martins/PMS
Foi então que o olhar atento da Equipe de Abordagem Social, em 2020, durante a pandemia, encaminhou o pintor ao Centro Pop, onde ocorreu o acolhimento inicialmente na Casa Êxodo e, posteriormente, na Seabrigo-AIF, onde mora há mais de um ano. “Somos como uma família. Temos refeição, cuidados e atividades para interagirmos. Com a minha dedicação na jardinagem, algo que eu gosto muito, fui incentivado, mesmo sendo ‘lentinho’, a me inscrever no Programa Fênix, onde passei por um curso de reciclagem de móveis por três meses na Prodesan e, agora, estou em um trabalho bacana na ZOI”, detalhou.
Foto: Marcelo Martins/PMS
Hoje, além do abandono ao vício do álcool e todo o passado de dor e sofrimento, Edilson também deixa para trás a pessoa que era. Atualmente, juntamente com o trabalho de meio período nos equipamentos municipais, o pintor é um redutor de danos em um projeto de extensão da Unifesp, onde aprende e compartilha conhecimentos sobre direitos humanos.
CONSULTÓRIO NA RUA
Outro serviço ativo em Santos é o Consultório na Rua (CNAR), iniciativa nacional e vinculada à Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Atualmente formado por 11 profissionais, entre eles dois enfermeiros, seis técnicos de enfermagem, uma psicóloga e uma médica, além de um oficial administrativo, a iniciativa já realizou 10.552 procedimentos ambulatoriais e 793 consultas, de janeiro até outubro deste ano. Os atendimentos mais comuns incluem coleta para exames laboratoriais, aplicação de vacinas, realização de testes rápidos para infecções sexualmente transmissíveis, curativos, acompanhamento de saúde bucal, entre outros.
Foto: Raimundo Rosa/Arquivo/PMS
Diariamente, a equipe do CNAR percorre as vias de Santos em uma van móvel para realizar abordagens às pessoas em situação de rua. O objetivo é promover o cuidado à saúde, podendo ter caráter preventivo, diagnóstico ou de tratamento. Havendo a necessidade de encaminhamento para uma policlínica, o atendido é levado à unidade de referência da região em que se encontra.
Foto: Raimundo Rosa/Arquivo/PMS
Se a policlínica encaminhar para uma unidade especializada, o agendamento e transporte do paciente é feito pelo CNAR junto à Seção de Transportes da Secretaria de Saúde. Por vezes, a equipe de abordagem identifica situações de urgência e emergência e, nestes casos, o Samu é acionado e o caso é acompanhado pela equipe.
CONTATO VIA 153
Assim como Edilson, que aceitou ajuda e está recomeçando sua vida, há outras pessoas que também podem estar precisando de atendimento e só estão esperando uma oportunidade.
Caso identifique a presença de pessoas vivendo nas ruas, em qualquer bairro da Cidade, que possam necessitar do auxílio dos serviços públicos, a Equipe de Abordagem Social pode ser acionada através do telefone 153. Neste caso, as ocorrências passam por uma triagem da Central de Atendimento no Centro de Controle Operacional (CCO) - em funcionamento 24h - e são repassadas para a equipe, de acordo com a situação.
Informações básicas e de identificação como nome, idade, descrição física e local exato onde a pessoa se encontra são muito importantes no momento do contato.