Plantio de 1,3 mil árvores já começa a mudar cenário em áreas vulneráveis do Monte Serrat, em Santos
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Maria Fernanda Kreling
Onde antes havia risco e medo, agora há perspectiva de equilíbrio. Cerca de 300 mudas de árvores já foram plantadas em áreas de vulnerabilidade no Monte Serrat, como parte do projeto-piloto ‘AbE subiu o Morro’ (AbE, sigla de Adaptações Baseadas no Ecossistema), que utiliza metodologia de soluções baseadas na natureza para recuperar o ambiente.
Até o final de março, serão introduzidas 1,3 mil mudas em regiões do morro mapeadas no Plano Municipal de Redução de Riscos como de risco muito alto, ou seja, com alta potencialidade para ocorrência de processos destrutivos em eventos meteorológicos extremos. O trabalho é uma forma de enfrentamento às mudanças climáticas e envolve a comunidade, estimulado o sentido de pertencimento.
Nos locais de plantio germinam espécies nativas como ipês, juçaras, jacarandás, pitangueiras, goiabeiras, limoeiros e, em alguns pontos, hortas comunitárias, que contemplarão, inclusive, PANCs (plantas alimentícias não convencionais). Todas foram escolhidas pela comunidade.
São cinco áreas de plantio, a maioria antes ocupadas por moradias demolidas após o processo de convencimento, em função da vulnerabilidade do ambiente. Como as habitações ficaram em áreas de alto risco, seus moradores foram realocads para conjuntos habitacionais. Muitos, inclusive, optaram por morar próximos dos antigos vizinhos nos novos lares.
O projeto-piloto, que fez de Santos referência internacional no enfrentamento às mudanças climáticas (t.ly/H-Qmu), foi desenvolvido em 2019 pela Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento Urbano e Sustentabilidade com participação da Defesa Civil de Santos e apoio da Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável (Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit - GIZ, em alemão).
CENÁRIO INUSITADO
Quem vê o processo de replantio de perto, estranha o fato de ser um local aparentemente de descarte de materiais. Há pisos quebrados, tijolos, concreto e telhas que restaram das demolições. A coordenadora de execução do projeto, Aline Regina dos Santos, explica que o cenário é proposital. “Por ser um local histórico de deslizamento, os materiais de concreto que permaneceram foram deixados por indicação técnica para que, em caso de chuva intensa, sirvam como barreira para o fluxo da água, minimizando a exposição e o risco das estruturas mais baixas”.
As mudas estão sendo plantadas em berços abertos em cima das lajes, justamente para não comprometer o solo. “Quando elas crescerem, as raízes irão criar uma trama subterrânea que irá sustentar o terreno e, junto com os materiais que já existem, ampliarão a segurança de quem mora mais abaixo”, explicou a coordenadora.
PARTICIPAÇÃO DA COMUNIDADE
A comunidade tem exercido papel fundamental e se tornado um dos pilares do projeto. Tão importante quanto a restauração dos serviços ecossistêmicos como parte de uma estratégia geral de adaptação, está a participação dos moradores do local nos esforços de adaptação aos efeitos adversos das mudanças do clima.
Desde o início dos trabalhos, em 2020, a participação dos moradores faz parte da construção das estratégias, como em audiências públicas, reuniões, workshops e oficinas e, agora, dos plantios. Futuramente, eles farão as manutenções necessárias, até que a vegetação seja recomposta.
Para o consultor da GIZ, João Vicente Coffani Nunes, o projeto em Santos segue firme no cumprimento do plano de ação. “O desenvolvimento de um projeto de AbE é uma proposta colaborativa entre equipe técnica e a comunidade. Sempre que possível, deve-se achar dentro da própria comunidade prestadores de serviços para serem contratados na realização das diferentes etapas e considerar a possibilidade de viabilizar novas fontes de renda dentro da comunidade”.
Para o secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento Urbano e Sustentabilidade, Glaucus Farinello, o trabalho renderá benefícios para as futuras gerações. "Medidas de adaptação visam construir possibilidades em cenários climáticos inevitáveis e é assim que o 'Projeto AbE Subiu o Morro' se desenvolve, avaliando os aspectos necessários, os benefícios para a comunidade, com base nas soluções da natureza. É um trabalho planejado e executado por todos, que ficará para as pessoas que ali vivem e para as próximas gerações"
POLÍTICAS PÚBLICAS
Primeira cidade brasileira a criar, em 2016, uma Comissão Municipal de Mudanças Climáticas (CMMC), Santos segue como modelo no enfrentamento das emergências climáticas com várias ações consolidadas. A Cidade foi a primeira do País a criar um plano municipal sobre mudança climática, o Plano de Adaptação Climática (Pacs), que consiste em um planejamento bastante detalhado, com medidas de curto, médio e longo prazos para Santos.
Há, ainda, o Plano Municipal de Conservação e Recuperação da Mata Atlântica (PMMA), iniciativa premiada em 2023 pelo Instituto Cidades Sustentáveis como o melhor projeto de cidades médias do Brasil
SANTOS É REFERÊNCIA
As ações da Prefeitura de Santos na área de emergência climática tiveram reconhecimento internacional em 2021. O Pacs e o ‘Programa AbE subiu o Morro’ foram apresentados pelo Governo do Estado de São Paulo como exemplos de enfrentamento às mudanças climáticas durante a Conferência das Nações Unidas, em Glasgow, na Escócia.
Com o ‘Programa AbE subiu o Morro’, Santos se tornou o único município brasileiro com ações voltadas para resiliência climática em área de morro, de acordo com o WRI Brasil e Ministério do Meio Ambiente, utilizando a metodologia ‘Adaptação Baseada em Ecossistemas (AbE)’.
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