Relação de Santos com o café marca aniversário da Estação do Valongo
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A relação histórica, econômica e cultural entre a cidade de Santos e o café foi celebrada no passeio de bonde comemorativo aos 158 anos da Estação Ferroviária do Valongo. O percurso pelos trilhos entre o Porto de Santos e o Centro Histórico da Cidade atraiu dezenas de moradores e turistas, neste domingo (16).
Durante o passeio, os atores Wagner Bastos e Cláudia Torres interpretaram os personagens Lord Smith e Baronesa Emendengarda, um engenheiro que participou da construção da ferrovia São Paulo Railway, para a ligação de Santos a Jundiaí, e uma viúva de um barão do café.
No trajeto, histórias do período em que o Porto de Santos começou a se desenvolver de forma organizada, entre o final do século XIX e início do XX, até o ciclo áureo das movimentações de café na Cidade. E, claro, apresentações de pontos históricos onde tudo acontecia, como o Armazém 1 da região portuária, no Valongo, que recebia imigrantes e na região onde eram embarcadas as sacas de café; a Bolsa Oficial do Café, onde se negociava o preço do produto; e a Rua do Comércio, centro de negócios cafeeiro.
A bordo do bonde temático Café Japão, doado a Santos pela cidade japonesa de Nagasaki, os turistas se divertiram com músicas da época. A estudante Luciely Ranquine veio do Rio de Janeiro para passar férias com a família em Cubatão e não perdeu a oportunidade de conhecer mais sobre a história de Santos.
“Achei o passeio bem animado e me surpreendi que resignificaram este local tão importante da história do País, que é a estação ferroviária. Gostei também porque é um prédio bem conservado e por ter muitas relações com o Rio, como o Valongo e a Praça Mauá, locais que existem lá também”.
A família da bancária Gabriela Viana, residente na Capital, também comemorou o aniversário da Estação do Valongo. Mas por uma coincidência especial: a turista veio a Santos com o marido, o empresário Alexandre Tujisoki, e a filha Lívia para comemorar o seu aniversário de 46 anos. “Vinha muito na infância, estudei Relações Internacionais em uma faculdade de Santos e escolhi passar meu aniversário aqui. A cidade é uma maravilha”.
ARQUITETURA
Além dos monumentos da Cidade, a beleza da Estação do Valongo é um dos destaques da região histórica santista. O guia de turismo Nelson Carrera explicou aos turistas detalhes da construção da Estação, como a sua variação arquitetônica ao longo do tempo.
O prédio foi inaugurado em 1867 em estilo jorgiano, segundo o guia, conhecido pela ausência de elementos decorativos. Mas, no final daquele século, com o ciclo do café, obras transformaram o patrimônio para o estilo vitoriano, justamente o que é marcado pela riqueza de detalhes, como se vê atualmente.
Desse momento, chamam a atenção, por exemplo, as torres da Estação, a ornamentação sobre portas e janelas, as esculturas de leões expostas no telhado e a cobertura externa com elementos decorativos forjados em ferro.
Posteriormente, conforme o guia, o prédio foi novamente transformado, ganhando um estilo eclético, ou seja a combinação de diversos estilos, especialmente pela instalação dos telhados das torres da construção em forma de pirâmide. “Isso tudo salta aos olhos do público, porque é um prédio muito bonito, com uma estrutura sólida, feita de pedras brutas com óleo de baleia e areia”, afirma Carrera.
BONDES
Trabalhando na apresentação do complexo turístico do Valongo há 13 anos, Carrera também apresentou aos turistas a Garagem de Bondes e Carros Ferroviários, que integra a área da Estação do Valongo. Ela fica em um galpão anexo, cuja estrutura é a remontagem do antigo Armazém 12-A, todo construído em zinco.
Na Garagem estão bondes e reboques de diversas nacionalidades que foram doados a Santos e formam o Museu do Bonde de Santos. O que mais desperta a atenção dos visitantes é o Bonde Pelé, que conta a história do ex-jogador Edson Arantes do Nascimento, o Rei Pelé.
Fabricado em 1909, foi doado a Santos pela cidade do Porto, Portugal, quando completava 100 anos, em 2009. “Além do Bonde Pelé, que chama a atenção por ser mais uma homenagem de Santos ao Rei, os turistas também se interessam muito pelos carros ferroviários da ferrovia São Paulo Railway”.
Essa composição conta com três carros ferroviários. O presidencial é o mais luxuoso e serviu de transporte para os presidentes Getúlio Vargas, Afonso Pena e Washington Luís. O carro administrativo era utilizado em inspeções ferroviárias, com capacidade para 23 pessoas.E o chamado Buffet Pullman, utilizado até 1947 em viagens entre Santos e São Paulo, com capacidade para 14 pessoas, conta com cozinha, bar e banheiro.
O arquiteto paulistano Daniel Kirsztain, que atualmente mora em Santos, se encantou com os carros ferroviários. Ele nunca tinha visitado a Garagem e conferiu as composições neste domingo. “Eu adoro trens, adoro bondes. É muito interessante conhecer de perto esses detalhes”.
A Garagem abriga, ainda, as oficinas de restauro e recuperação de peças dos bondes, que também pode ser conhecida.
SANTOS-JUNDIAÍ
A Estação do Valongo é considerada um dos pontos mais importantes do desenvolvimento de Santos. Nela chegavam as mercadorias transportadas pela Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, a primeira ferrovia paulista, que fazia a ligação entre o Porto de a Santos e o interior paulista, grande produtor do café para exportação na época.
A Estrada pertencia ao empresário Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá. Ele a construiu para modernizar e agilizar naquela época o transporte de cargas ao cais santista.
SERVIÇO
Os passeios de bonde pelo Centro Histórico ocorrem de terça a sexta-feira, das 11h às 17h, com saídas a cada uma hora. Sábados, das 10h30 até às 17h, com intervalo de 40 minutos. Já aos domingos, opera das 10h30 às 13h, com partidas a cada 40 minutos e depois, até as 17h, sai de hora em hora.
Ingressos à venda na bilheteria instalada no Museu Pelé, no Valongo, a R$ 7,00. Pagamentos em dinheiro ou pix. Maiores de 60 anos, estudantes e professores pagam meia-tarifa. Crianças até cinco anos, no colo, não pagam.
Para visitar a Garagem de Bondes e Carros Ferroviários é preciso retirar a senha no balcão do Museu Pelé, localizado em frente à garagem, no mesmo dia da visita. Um guia acompanha a visita.
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