Thadeu Aguiar

A história de Virna Dias, a menina alta e magrela, apelidada de Olívia Palito, que aos 13 anos iniciou a prática do vôlei em uma escola de Natal, Rio Grande do Norte, e se transformou em uma das melhores jogadoras do mundo, duas vezes medalhista olímpica, foi pura inspiração para mais de 100 alunos da rede municipal de Santos, em edição especial do Mês da Mulheres do Programa “Campeão na Escola”. Realizada pela Fundação Pró-Esporte de Santos e as secretarias de Esportes e de Educação, a iniciativa teve dessa vez apoio do Sesc Santos, onde foi realizado o evento.

Não eram só os estudantes da UME Florestan Fernandes e Cidade de Santos que acompanharam atentos as palavras de Virna. Também estavam presentes as meninas da equipe santista de vôlei sub-21 Realizar e sub-17 Realizar/ Internacional /Santos, além de integrantes do Programa Sesc de Esportes.

Todos ficaram conhecendo a ligação de Virna com a Baixada Santista desde o início de sua trajetória. Defendendo a seleção juvenil do Rio Grande do Norte, veio disputar o Campeonato Brasileiro no Guarujá. “Perdemos todos os jogos. Não ganhamos nenhum set. Mas pela minha estatura e força, chamei a atenção das equipes de São Paulo e do Rio de Janeiro”. Ela precisou convencer seu pai, que queria que ela se formasse, assim como ele, em engenharia civil, para mudar-se, com apenas 15 anos, para jogar vôlei no Rio de Janeiro.

Virna lembrou todas as dificuldades, como a ausência da família e a xenofobia, por ser nordestina. “Mas eu não ligava, queria ser jogadora de vôlei. A vida de atleta tem muitas restrições, e não podemos deixar de estudar, mas quando a gente ama o que faz, tudo vale a pena quando atingimos nossos sonhos”.

Em uma das histórias, Virna falou sobre superar medos. “Não sabia recepcionar, toda vez que a bola vinha eu ficava com medo. Fui cortada da seleção por esse motivo. Treinei muito para voltar, tive oportunidade com o Bernardinho. Ele falou que queria que eu fosse ponteira e passadora e eu confessei meu medo”.

Bernardinho incentivou a atleta dizendo que não existia medo, tinha trabalho. "Treinava seis horas por dia e quatro meses depois eu estava ganhando, pela seleção, após competição, o prêmio de melhor recepção do mundo, incluindo 100 mil dólares, que fiz questão de dividir com toda equipe".

Elogiando o projeto santista, Virna incentivou os jovens a nunca desistirem dos seus sonhos. “Não deixe ninguém fazer você desacreditar. Vocês são verdadeiros campeões. Todos nós temos um sonho e precisamos lutar por ele”.

DEPOIS DE INSPIRAR, A PRÁTICA

Depois de inspirar a turma, Virna colocou todo mundo para suar, realizando um treinamento com os estudantes e as equipes de vôlei santista, com direito a aquecimento, corrida e um pouco de ensinamento e prática de cada um dos fundamentos da modalidade.

Uma das que aproveitou o encontro foi Manuela Borges Batista, da UME Cidade de Santos, que já representa a escola em competições: “O vôlei é meu esporte favorito. Já conhecia a Virna, porque meu pai é fanático por vôlei. Então é gratificante essa experiência, de poder falar que vi e pratiquei com a Virna”.

Mesmo preferindo o futebol, Pedro Henrique Alves dos Santos, 13 anos, aluno da UME Florestan Fernandes, falou que também se dá bem no vôlei e gostou muito da iniciativa. “É um privilégio poder conhecer uma jogadora da seleção brasileira. Estou aproveitando muito”.

José Reis, técnico da equipe de vôlei Realizar/Fupes, lembrou que muitas das atletas do time santista, que vêm se destacando na categoria sub-21, vieram das escolas, onde conheceram o esporte. “É muito bom ver a energia das crianças querendo aprender a modalidade e é fundamental esse contato das atletas com os estudantes”.

AUTORIDADES DESTACAM INICIATIVA

A vice-prefeita e secretária de Educação, Audrey Kleys, ressaltou a trajetória de Virna, como começou, de onde veio e o legado que deixa com a participação, acendendo um farol nas vidas das crianças. “Precisamos de histórias como a dela. Ninguém nasce campeão. Sempre lembrando que o esporte é necessário, mas junto com ele a educação”, disse Audrey, incentivando os jovens a se aperfeiçoar e se capacitar para realizar seus sonhos.

O diretor-presidente da Fupes, Frederico Monteiro, afirmou que o Programa Campeão na Escola é importante para mostrar como o esporte pode se tornar uma ferramenta de mudança na vida. “Por isso trazemos nossos principais atletas, para plantar essa semente e quem sabe colher algo como o gosto pela atividade física ou até o alto rendimento”.

Na edição especial do Mês da Mulher, o secretário de Esportes Rogério Sampaio destacou o vôlei feminino, bronze na quadra e campeão nas areias nos Jogos Olímpicos de Paris, quando pela primeira vez o Brasil teve mais mulheres do que homens no pódio.

O campeão olímpico de judô ressaltou que Virna é uma vencedora no esporte e na vida, que se dedica a incentivar a prática esportiva. “Por meio do esporte é possível ter bolsa de estudos, conhecer países, culturas, aprender novas línguas, ter um bom salário e garantir a mudança da vida social de toda a família”.

A secretária da Mulher, Cidadania, Diversidade e Direitos Humanos, Nina Barbosa, afirmou que o momento vai ficar na memória de todos e elogiou a escolha de Virna para a edição especial das mulheres. “É uma mulher que representa a força de todas nós brasileiras”.

A gerente do Sesc Santos, Simone Avancini, elogiou a iniciativa em conjunto com Fupes, Semes e Seduc e enfatizou o trabalho do Programa Sesc de Esportes. “Buscamos essa aproximação com as mais diversas modalidades, desde os três até os 100 anos, promovendo a prática da atividade física e o contato com a área esportiva”.

Fotos: Marcelo Martins