Bate-papo e oficina fazem mães atípicas compartilharem histórias de vida em Santos

Wellington Alexandre
Compartilhar histórias e propósitos através da arte pode gerar empatia e abrir novas perspectivas. Foi com esse espírito que o programa Feito em Santos promoveu, na quarta-feira (23), encontro especial entre mães da Clínica-Escola do Autista (Rua Heitor Penteado, 80, Marapé) e a artesã e empreendedora Cristina Atanes, do Ateliê Mamães, conhecida por criar brinquedos educativos em feltro.
A atividade integrou o Mês da Criatividade e o Abril Azul — campanha global da Organização das Nações Unidas (ONU) voltada à conscientização sobre o autismo — com apoio da Secretaria de Saúde. Reuniu mães, tias e avós para um bate-papo sobre maternidade atípica, seguido de uma oficina prática com jogos educativos.
Cristina compartilhou a trajetória pessoal e profissional, destacando a força e a resiliência que a maternidade atípica exige. “É sempre muito gratificante poder conversar com as pessoas, principalmente com mães atípicas como eu. Temos muitas responsabilidades, muitos afazeres e muitas vezes esquecemos de nós mesmas”, disse a artista, que integra o Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência. Ela explicou que todos os brinquedos que produz têm um propósito terapêutico e pedagógico. “Servem para desenvolver habilidades que as crianças precisam aprender no momento”. Cristina também ressaltou a importância de os adultos participarem das brincadeiras, fortalecendo os vínculos familiares.
Logo após o bate-papo, mães, crianças e a própria artista colocaram a mão na massa para confeccionar uma bolsa lúdica com jogo da velha em feltro — pensada para estimular a coordenação motora, raciocínio lógico e interação social.
Silvana da Silva Franco, de 60 anos, que acompanhava o neto Heitor, de 7, destacou a importância da troca de vivências. “Veio agregar bastante para nossa vida, para a vida deles. Às vezes, não entendemos o que uma criança dentro do espectro tenta nos comunicar, mas, na vivência diária, somos nós que aprendemos, não são eles.”
Diretor de Inovação Econômica da Prefeitura, André Falchi Bueno reforçou a proposta de unir criatividade, inclusão e empreendedorismo. “Sabemos o quanto são criativas as nossas crianças e jovens, e precisamos explorar isso. Trazer inspiração de futuro para essas mães mostra que é possível conciliar cuidado, superação e geração de renda”.
A assistente social Mara Vasques, da Clínica-Escola, reforçou a importância de momentos como este. “A Lei do Brincar fortalece essa ideia de resgatar o tempo em família, reduzir o uso de telas e promover benefícios reais tanto para o tratamento quanto para o convívio familiar.” Ao final da oficina, os participantes saíram não apenas com um brinquedo artesanal nas mãos, mas com novas referências de empoderamento, afeto e pertencimento.
EMPREENDEDORISMO
Mãe de três filhos — Isabella (11), com síndrome de Down; Miguel (9), com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH); e Manuella (7) — Cristina Atanes aprendeu a empreender por necessidade. Hoje, é destaque na produção de brinquedos pedagógicos feitos com carinho, criatividade e propósito, a partir da máquina de costura que possui em sua casa.
O projeto ‘Mamãe Arteira’ surgiu quando precisou interromper sua carreira nas áreas de Direito e Tradução para cuidar da filha recém-nascida, que enfrentava problemas de saúde. Sem conseguir retornar ao mercado formal, viu no artesanato a forma de unir cuidado familiar e geração de renda. Em 2021, Cristina deu os primeiros passos na vida empreendedora ao participar da primeira feira presencial do Feito em Santos.
“Me inscrevi para expor e fui chamada. Desde então, participo de todas as edições. Também estive na primeira Aceleradora de Artesanato com o Sebrae, o que me rendeu convites para expor durante o evento da Unesco, em 2022, e na Feira do Empreendedor duas vezes. Essas experiências foram fundamentais para entender que meu negócio pode ir além de um hobby e crescer de verdade”.
Fotos: Carlos Nogueira
COMENTÁRIOS